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João Leão vê economia a crescer mais que o previsto, pede prudência ao BCE (como Centeno) e deixa conselhos a Medina

O antigo ministro das Finanças João Leão acredita que o crescimento do PIB português poderá superar 6% este ano, mas aponta para uma desaceleração em 2023, com uma estagnação ou mesmo recessão na zona euro, defendendo uma estratégia prudente.

Em entrevista à Lusa publicada este sábado, 1 de outubro, o ex-ministro das Finanças assinala o impacto do atual contexto internacional, com um abrandamento económico provocado pela guerra, um aumento da inflação com uma incerteza muito elevada e, pela primeira vez em muitos anos, os mercados voltarem a estar muito atentos ao financiamento dos países e dos juros, para identificar as condicionantes da economia portuguesa no próximo ano.

O ex-governante acredita que, dado um primeiro semestre “muito forte”, é “muito provável” que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se fixe acima da meta de 4,9% esperada pelo Governo, admitindo que “até é possível que fique acima dos 6% de crescimento”.

Apesar de a previsão estar ainda em 4,9%, a verdade é que o próprio ministro das Finanças já assumiu que o PIB nacional deverá expandir-se acima de 6% - valor que Leão elogia na entrevista à Lusa: “é um número muito bom”.

Quebra da economia em 2023

No entanto, para 2023, a expectativa é de desaceleração. “Não me surpreendia que para o ano houvesse na Europa um forte abrandamento da economia. Já se estima um crescimento – o Banco Central Europeu, a OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico] – próximo dos 0% e não seria surpreendente que houvesse mesmo uma recessão na Europa”, aponta, frisando que “Portugal não deixará de ser afetado”, uma vez que “é uma economia muito aberta e muito inserida no mercado europeu”.

O antigo ministro antecipa, assim, “um forte abrandamento económico e que será revisto em baixa o crescimento para o próximo ano”.

Entre os setores da economia portuguesa mais afetados deverão estar o turismo, com uma desaceleração da melhoria que se vinha a registar, mas também a construção, sobretudo de habitação, refletindo os aumentos das taxas de juro.

Aviso ao BCE

O antigo ministro das Finanças deixou, na entrevista à Lusa, um aviso ao Banco Central Europeu (BCE), em linha aliás com aquela que tem sido a a postura do seu antecessor naquele cargo, Mário Centeno, que hoje é governador do Banco de Portugal.

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“Aconselho alguma moderação ao BCE porque a Europa está a ser mais afetada do que os Estados Unidos pelo impacto da energia. Os preços de energia estão a aumentar mais na Europa do que nos Estados Unidos, sobretudo na questão do gás. É importante ter algum cuidado com o ritmo, porque essa moderação na economia que o BCE está a querer atingir já está a ser atingida pelo efeito da energia”, disse, admitindo que a inflação não foi um fenómeno tão temporário como se esperava (“Foi em parte subestimado”).

Ainda que assinale compreender que a instituição liderada por Christine Lagarde “não pode deixar de procurar manter a sua credibilidade”, ao mesmo tempo que mantém as expectativas de inflação ancoradas nos 2%, é preciso, diz, um “equilíbrio”, que admite ser “difícil de fazer”.

A “prudência” aconselhada é para “garantir que não estamos a cometer um erro, como foi cometido há 11 anos, em que o BCE subiu excessivamente as taxas de juro e depois agravou demasiado… a economia europeia entrou numa forte recessão”, afirma.

Conselhos a Medina sobre impostos

Na entrevista, João Leão não quis fazer comentários sobre a proposta de Orçamento do Estado que Fernando Medina, seu sucessor, terá de entregar dia 10 de outubro. Ainda assim, o agora vice-reitor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (e até há dias candidato a presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade) pediu uma “atenção muito especial” durante este ano e no próximo ao impacto do aumento dos preços da energia e da inflação, mas sem medidas que cristalizem problemas temporários.

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“Quando se pensa se se deve ajustar uma taxa de imposto mais para um lado ou mais para o outro faz sentido num contexto de medida estrutural que seja pensada. Quando se está a pensar neste contexto de crise e da reação a esta crise provocada pela guerra, pelo seu impacto na inflação e nos preços de energia estamos a pensar em medidas de natureza conjuntural. Aí faz mais sentido pensar em medidas de apoios diretos, dirigidos e que ajudem os setores e as famílias mais atingidas”, disse o ex-ministro.

Foi nesta mesma entrevista que João Leão considerou as declarações do presidente da ANA, que o acusou de ter sido força de bloqueio nas obras do aeroporto, “infelizes”, "desapropriadas" e de quem não sabe como funciona um governo.

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