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Labour reagrupa-se para reagir ao pós-Johnson no regresso da política ao Reino Unido

O Partido Trabalhista dá este domingo o pontapé de saída na tradicional temporada de congressos partidários no Reino Unido, depois de praticamente dois meses de uma quase-ausência de discussão política no país, fruto do prolongado processo de escolha do novo primeiro-ministro conservador e das várias cerimónias fúnebres e eventos protocolares por ocasião da morte da rainha Isabel II.

A troca de Boris Johnson por Elizabeth Truss na chefia do Partido Conservador e do Governo britânico vai obrigar o Labour a redefinir e a reorientar alguns dos métodos e prioridades da sua forma de fazer oposição, mas o partido de centro-esquerda olha para reunião anual como uma boa oportunidade para mostrar aos conservadores, aos eleitores e ao país que está pronto para vencer as próximas eleições, previstas para 2024.

Com o Reino Unido a atravessar uma das piores crises energéticas das últimas décadas, com taxas de inflação perto dos dois dígitos e próximo da recessão, a resposta ao aumento vertiginoso do custo de vida nos últimos meses estará no centro dos discursos, das votações internas, dos debates, dos workshops e de outras iniciativas partidárias que vão decorrer entre domingo e quarta-feira na cidade inglesa de Liverpool.

Uma das principais propostas dos trabalhistas para responder à crise, que deverá merecer o respaldo unânime dos militantes ao longo dos próximos dias, passa pelo reforço e alargamento da política de tributação dos lucros inesperados – nomeadamente das empresas energéticas – para ajudar as famílias a lidar com o aumento dos preços.

“As políticas económicas de casino dos tories estão a apostar as hipotecas e as poupanças de todas as famílias do país. O Labour vai assegurar crescimento para as classes trabalhadoras, que beneficiará todas as comunidades. O meu governo vai proporcionar um futuro mais justo e mais verde”, afiançou Keir Starmer, num tweet de lançamento do congresso, publicado este sábado.

Optimismo e responsabilidade

O líder do Partido Trabalhista chega ao congresso com optimismo, mas com acrescida responsabilidade. Na anterior reunião magna, há precisamente um ano, o objectivo passava por unir o Labour, lançar o “corbynismo” para trás das costas e acabar com as dúvidas persistentes sobre a sua visão para o país.

Se é certo que algumas divisões internas ainda persistem – a ala esquerda rejeita liminarmente a viragem ao centro promovida por Starmer –, também é verdade que o partido está numa posição privilegiada para vencer as próximas eleições, como nunca esteve, provavelmente, nos últimos 12 anos.

A gestão da pandemia, da crise económica e dos vários escândalos que abalaram o Governo de Johnson não só forçaram a demissão do primeiro-ministro, em Julho, como tiveram um impacto negativo para os tories nas eleições locais de Maio e em duas eleições intercalares em Junho, e atiraram o Partido Conservador – vencedor de todas as eleições legislativas desde 2010 e tendo conseguido, em 2019, a sua maior vitória desde 1979 –, para o segundo lugar nas sondagens a nível nacional, há vários meses consecutivos.

O inquérito da YouGov para o Times, publicado na sexta-feira, e realizado já depois de Liz Truss ter assumido o cargo de primeira-ministra, atribui 40% das intenções de voto ao Partido Trabalhista e 32% ao Partido Conservador – Liberais-Democratas (9%), Partido Verde (8%), Partido Nacional Escocês (5%), Reform UK (3%) e Plaid Cymru (1%) completam a lista.

Para além disso, um outro estudo da Ipsos, publicado a 7 de Setembro, concluiu que 40% dos inquiridos consideram que Starmer dará um bom primeiro-ministro, contra apenas 33% que dizem o mesmo sobre Truss.

Apesar destes números, favoráveis ao Labour, é no duelo particular entre a primeira-ministra e o líder da oposição que residem algumas das incógnitas políticas dos próximos tempos, uma vez que ainda não houve muitas oportunidades para os dois debaterem na Câmara dos Comuns.

No seu discurso aos militantes, agendado para terça-feira, Starmer vai, por isso, apontar baterias a Truss, procurando colá-la às políticas, aos escândalos e à imagem da governação Johnson – foi ministra dos Negócios Estrangeiros no executivo do ex-primeiro-ministro.

A resposta da chefe do Governo não demorará muito tempo: no próximo fim-de-semana será a vez de os tories se reunirem em congresso, também no Norte de Inglaterra, mas na vizinha cidade de Manchester.