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Opinão – O castelo de algodão Turquia-2007

Foto de José Luís Santos

O dia começa cedo em Éfeso, na Turquia. A cidade estava calma, e havia um ambiente de tranquilidade que, juntamente com o desfrutar de um café quente, sentia como sendo um sussurro de bons dias que me despertava da melhor forma. Agora preciso de cortar o cabelo e de fazer a barba. Encontro um estabelecimento e dou a entender ao barbeiro o que pretendo. Era um profissional relativamente novo, na casa dos 30. A sua tatuagem no braço direito deduz o seu passado na vida militar, mas agora a pontaria é certeira com o fechar da tesoura bem afiada. Ao seu lado, um miúdo que entrara há pouco na adolescência era o seu aprendiz. Facilmente repararam que era turista e fizeram os possíveis para acumular uma gorjeta e esmeraram-se no seu trabalho. Uma boa forma de começar o dia que foi devidamente recompensada.
Era altura de apanhar mais um autocarro, desta vez para Denizli, uma cidade situada mais para o interior. São mais de três horas de caminho para percorrer as duas centenas de quilómetros para arranjar ligação para um dos mais famosos pontos de interesse do país, Pamukkale. Classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, as chamadas termas de Travertino são um conjunto de piscinas naturais de carbonato de cálcio em forma de terraços ao longo de uma enorme encosta, com água a rondar os 36 graus centígrados.
O tom branqueado desta formação baptizou o local de “Castelo de Algodão”, um espaço apreciado já desde a época dos romanos, altura em que já gozava de larga reputação nas qualidades medicinais das suas águas ricas em cálcio. Desta forma, numa colina não muito afastada do local foi erigida Hierápolis, uma cidade que recebia quem vinha à procura dos poderes curativos destas águas tão reputadas de milagrosas.
À entrada, temos de nos descalçar para minimizar o desgaste do piso esbranquiçado. O efeito deste tom despejado numa montanha de cores mais escuras dá uma imagem verdadeiramente surreal, como se tivesse sido derramado um carregamento de gesso pela encosta abaixo. Os visitantes, em puro estado de delírio, tiram fotografias junto deste prodígio da natureza, ou então aproveitam para pôr o corpo quente de molho nas águas à temperatura ambiente. A maioria das piscinas foram fechadas ao público, pelo que muitas das imagens turísticas que ainda se vendem bem nos cartazes turísticos já estão mais que fora de prazo, mas mesmo assim é possível reviver o que se fazia já na época romana.
No sopé do monte, surge Hierápolis. Foi das cidades melhor situadas que vi até hoje, com uma paisagem ímpar sobre um horizonte de perder de vista para a Anatólia tendo o pôr de sol como ponto alto da visita. Uma visita altamente recomendável, sobretudo para quem sobe até ao topo do seu imponente anfiteatro. E a piscina que se encontra bem perto é de visita obrigatória, sobretudo para quem deseja dar umas braçadas num espaço onde se sentem envolvidos por estátuas da Antiguidade Clássica.
Valeu a pena ter investido parte do tempo para deambular pelas ruínas com a luz já ofusca do firmamento ao fim da tarde e ver de perto o Templo de Apolo, a igreja Bizantina ou os banhos públicos. Já ninguém aqui se encontrava, só mesmo as ruínas dos edifícios aqui erigidos por Eunemes II, rei de Pérgamo, em 190 antes de Cristo.
Mas tudo tem um preço. O facto de ter aqui ficado até a escuridão da noite me cegar trouxe-me problemas pois agora teria de descer tudo novamente sem qualquer visibilidade, ou ajuda de qualquer espécie. Valer-me-ia a fraca lanterna do telemóvel para conseguir desenrascar-me daquele imbróglio.