Os ensinamentos da antiga «Escola de Mato»

              Em São Tomé e Príncipe, a Escola Pública e a «Escola de Mato» representavam no início do século XX, o kandjá (a candeia) de combate ao obscurantismo.

              As mulheres não tinham muita aceitação nos bancos dessas escolas, tanto Públicas, como as de «Escola de Mato», dada a imposição decretada pelo Estado Novo que não lhes facultava a possibilidade de estudar.

              A instrução veiculada nos bancos da antiga «Escola de Mato» proporcionou a muitos São-Tomenses, sem grandes posses, a aprendizagem das primeiras letras.

              Falar da «Escola de Mato» é falar de todo um processo que levava miúdos e adultos a sentarem-se nos improvisados bancos dessa Escola não oficial. Os miúdos iam aprender o abecedário e os adultos só o faziam quando atingissem a idade fora do formato limite estabelecido, para a frequência do ensino público.

              O surgimento da «Escola de Mato» vem já descrito no livro “História da Educação no arquipélago de São Tomé e Príncipe – o Ensino Primário: da Escola Pública à «Escola de Mato»”, publicada em Lisboa (2017), Edições Colibri.

              Nele presume-se, que “(…) a «Escola de Mato» tenha surgido nas ilhas, nos finais do século XIX, princípios do século XX. Ela tem uma longa história contada pelos anciãos, muitos deles já falecidos, e por outros actores, mais recentes, que se sentaram nos improvisados bancos dessa Escola, frequentada apenas pelos nativos de São Tomé e Príncipe”.

              Esta pequena conversa para a explanação dos requisitos e dos atributos da «Escola de Mato», suscita, primeiro, uma incursão acerca da instrução e da educação de antanho.

 A Instrução e a Educação no antigamente

              Antigamente a educação e a instrução eram dois predicados que se complementavam. Convergiam na formação do indivíduo, desde a tenra idade. Ao referir-me ao antigamente estou a falar, justamente do século XX, altura em que a sociedade São-Tomense adoptara uma forma própria de seguir um indivíduo nas sucessivas fases de crescimento.

              Naquele tempo a educação era ministrada no seio da Família e, complementada no “Kinté Glandji” (quintal no sentido lato do termo, ou seja, que albergava um clã familiar, dirigido, geralmente, por uma matriarca). O “Kinté Glandji” funcionava como se fosse uma mini sociedade, onde todos, vizinhos incluídos, contribuíam para a educação dos jovens. Aprendia-se a respeitar os adultos, os actos de civismo e de cidadania eram incutidos até à exaustão, a solidariedade estava presente em quase todas etapas de uma educação, entendida como um acto afectivo.

              A criança aprendia a jogar à bola, esfolando os joelhos; a saltar à corda; a trepar e a saltar; a jogar à malha; a fazer quiçakli (armadilhas) para apanhar izé fundu (camarão do rio) e a arquitectar todo o tipo de diabruras próprias da idade.

              A instrução era uma outra etapa crucial da fase de crescimento, desenvolvida nas carteiras da Escola. Os jovens aprendiam a ler, a escrever e a fazer contas de somar, multiplicar, subtrair e dividir.

O papel da «Escola de Mato»

              Os padres católicos, autóctones foram, provavelmente, os grandes mentores da criação da «Escola de Mato», pois eram eles que leccionavam nas escolas em São Tomé, no Príncipe, em São João Baptista de Ajudá e em Benguela. Eles ensinaram aos conterrâneos as primeiras letras, com o objectivo desses as reproduzirem pelas localidades mais recônditas.

              Esse objectivo foi sendo escrupulosamente cumprido e, a partir da década de 1930, sobressaíram nas duas ilhas vários nichos de «Escola de Mato», destacando-se, na entrada da década de 50 do século XX, as três principais situadas dentro da cidade de São Tomé.

Eram proprietários das mesmas, os Mestres-Escolas, senhor Evaristo (1895-1989) e o senhor Hipólito (1899-1977), cujos estabelecimentos se localizavam na Rua do Rosário (Rua 3 de Ferreiro, na actualidade), distando uma da outra cerca de 500 metros, e o do senhor Vicente (1903-1979) cuja escola ficava na Rua Pascoal Amado (mais conhecida como Rua «Morta»).

              Curiosamente, o senhor Evaristo, natural de Santo Antão, Cabo Verde, era requisitado pelas Roças de Café e de Cacau para instruir indivíduos brancos analfabetos, recrutados na metrópole para trabalharem como feitores nas plantações agrícolas.  

Dado o melindre da situação, que mexia com o estatuto dos brancos iletrados nas Roças, o assunto terá sido discutido pelos patrões nas sedes das administrações em Lisboa, que preferiram que fosse o senhor Evaristo a leccionar, só pelo simples facto de ser mulato e não chocar os educandos. Estes frequentavam aulas, no mais profundo sigilo, aos fins-de-semana, no aconchego das respectivas Roças. O exame da 3.ª e da 4.ª classe era requerido na Escola Pública, sob proposta do professor Evaristo.

              Sobressaíram na ilha do Príncipe as «Escola de Mato» da dona Paula Sequeira, da dona Paula Lavres (1889-1965), do senhor Manuel Correia Moniz vulgo «Mé-Kuá» (n., f.?), do senhor Agostinho (n., f.?) e do senhor Cristóvão (n. 1945).

Os professores de «Escola de Mato» ainda vivos

              Os dois últimos professores de «Escola de Mato», que ainda estão vivos nasceram um, no mês de Março, na ilha de São Tomé, e o outro no mês de Abril, na ilha do Príncipe. O primeiro completou um século (100 anos) de vida e o segundo comemorou os 78 anos de idade.

              Quem são esses ilustres professores?

              Ilha de São Tomé:

              O professor, Galino Quaresma Vaz de Almeida, conhecido apenas por «Sum Galino» (o senhor Galino) nasceu na ilha de São Tomé, no dia 23 de Março de 1923. Entrou tarde para a escola. Só aos 14 anos se sentou, pela primeira vez, nos bancos da «Escola de Mato» da sua zona. Quando obteve o diploma de Instrução Primária, ou seja o exame do 2.º grau (4.ª classe), já a idade ia avançada. Ao ter que escolher uma profissão, o senhor Galino enveredou pelo ensino como forma de ajudar os patrícios a tomarem conhecimento com a leitura, a tabuada e a redacção, segundo palavras suas. Em 2017, Sum Galino mantinha intacta a estrutura das antigas «Escola de Mato», na zona de Cova Barro, onde residia, ensinando meninos e meninas, respondendo ao apelo de pais e encarregados de educação.

Ilha do Príncipe:

O professor Cristóvão Baptista Sequeira da Silva, mais conhecido por «Menino Cristóvão», é um minu’yé (filho da terra/da ilha) que nasceu na freguesia da Conceição, ilha do Príncipe, no dia 26 de Abril de 1945. Iniciou a sua carreira na «Escola de Mato» da sua ilha, no ano de 1963. Casado e pai de 7 filhos, exercia, em 2017 a profissão de professor de «Escola de Mato» ensinando as primeiras letras aos jovens da ilha.

Estes dois conterrâneos nossos são o rosto de uma Escola que chegou ao fim do seu percurso no dia 12 de Julho de 1975, com o acesso do território à Independência.

Hoje, questionam com reserva, os métodos utilizados, tanto na Escola Pública, como na «Escola de Mato» que permitiam a utilização da palmatória e do chicote no processo de ensino-aprendizagem.

Ambos entendem que o castigo era uma prerrogativa que ia de encontro ao sistema daquele tempo e que não havia grande volta a dar, relativamente a esse assunto. Era o figurino de ensino imposto pelo Estado Novo, implementado em Portugal e, com maior acuidade, nas colónias.

E … nos dias que correm?

              Nos dias que correm já não se vislumbra esse tipo de movimentação inserida na forma de educação e de instrução, que era cultivada religiosamente pelos nossos pais.  

A educação sofreu, desde logo, uma transformação na forma como ela era entendida. O elo principal de toda essa engrenagem societal – a Família – está progressivamente a perder o fôlego. Na nossa sociedade, constacta-se que a Família está a fragmentar-se, perdendo a sua principal função que é EDUCAR.

              Quanto à Instrução: a Escola perde a olho nú a sua real capacidade de desempenhar cabalmente o seu papel.  

Fazemos parte de uma sociedade – a São-Tomense – onde o índice de fertilidade é elevado e a Escola aparenta ter parado no tempo. Essa instituição terá perdido, provavelmente, a noção do tempo, mantendo as mesmas salas de aulas do antigamente, onde se acoitavam entre 18 a 20 alunos, para nelas se encafuar, na actualidade entre 60, 70, até 80 alunos.

 Para concluir esta prosa, quero agradecer aos dois Professores, o «Sum Galino», na ilha de São Tomé e, ao «Menino Cristóvão», na ilha do Príncipe, pela abnegação e pelo profissionalismo que demonstraram durante o seu desempenho, ensinando muitos São-Tomenses, a ler, a escrever e a contar.

Desta forma quero render singela homenagem aos dois contemporâneos, que atravessaram o século XX e penetraram no novo século consagrado, como o das novas tecnologias.

Poder-se-ia falar sobre os resquícios e pegadas da «Escola de Mato» nos tempos actuais. Mas esta seria já matéria para outra prosa.

Lúcio Neto Amado


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