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A “Enforca cães” deve mudar de nome?

Não. Nem sempre há uma relação pacífica entre a toponímia, a história e a memória, uma vez que há duas vias, quantas vezes antagónicas, no ato de nomear lugares: a oficial (que envolve no processo marcas de relações de poder) e a coletiva, ou popular (que realça o nome espontâneo, descritivo, e que, por isso, permite e/ou promove interpretações cujo objetivo é a pertença, muito mais do que um qualquer reconhecimento político, social, económico, religioso, científico ou mesmo cultural).
Conhecido originalmente como caminho “da mina” (para os de cá do cabo Mondego), “da Murtinheira” (para os de lá), ou “da fábrica” (para ambos), foi no séc. XIX que se vulgarizou o nome “Enforca cães” para um traçado público adquirido por usucapião pelas Companhias particulares que foram explorando as jazidas de carvão mineral.
Para uns, porque as pessoas utilizavam esta falésia para se livrarem dos cães contaminados pela raiva, colocando-os em sacos e lançando-os pelos rochedos; para outros, porque foi um local privilegiado de execução de tropas franceses, aquando das invasões napoleónicas – associar cães e franceses, por esses dias, era um exercício catártico.
Assim, à falta de uma designação oficial, não me parece legítimo, à nossa geração, e muito menos por razões do abominável, intrusivo e imperialista “politicamente correto”, inventar à pressa um outro nome para a Estrada “Enforca cães”.