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A escolha dos não-alinhados

Na passada semana, centenas de chefes de Estado, de Governo e demais dignitários dirigiram-se a Nova Iorque para o debate geral da 77.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Dentre as dezenas de discursos ali proferidos, houve um que recebeu destaque por apontar baterias a um tema controverso.
O Presidente francês Emmanuel Macron dirigiu-se à Assembleia num exemplar exercício de veemente oposição à Rússia e de apoio indefetível à Ucrânia. Todavia, mais interessante e consequente foi a sua mensagem aos Estados “não-alinhados” neste conflito. No regresso à era de imperialismo e mentalidade colonial que esta invasão representa, os que escolhem a neutralidade estarão “enganados” e assumirão “uma responsabilidade histórica”. Como bem explicou, a causa destes deverá ser a busca da paz, da soberania dos Estados e da sua integridade territorial. No fundo, não um combate entre o Ocidente e a Rússia, mas entre a independência de um Estado e a sua extinção.
O “Sul Global”, que tragicamente tão bem conhece os efeitos do colonialismo, deveria aqui reconhecer os ecos de um tempo passado. Sem pretensões, procurarei apenas salientar, para os países e capitais por onde passei, a importância do apoio à Ucrânia para promover o fim próximo desta guerra.
1. Começo por Dakar, hub regional da África Ocidental e que recebe todos os anos conferências sobre o desenvolvimento e parcerias internacionais. Todas se focarão, agora, num único tópico: a insegurança alimentar. O Senegal, na presidência da União Africana, tem-se esforçado por encontrar soluções, ciente da especial vulnerabilidade de África aos impactos da guerra desencadeada pelo Kremlin. Uma comunidade africana que, numa só voz, rejeitasse a ingerência russa, na Ucrânia como no próprio continente, teria um peso inquestionavelmente maior no palco internacional e contribuiria para o fim desta grave ameaça alimentar.
2. Macau. A posição da China, de um reticente apoio à Rússia a ambíguas declarações sobre a integridade territorial dos Estados, demonstra o delicado equilíbrio que procura manter, mas que poderá não conseguir sustentar. Com um modelo económico que depende da prosperidade dos países ocidentais, fontes de investimento externo e destinos das suas exportações, incorre no risco de uma séria crise caso a guerra se prolongue e traga disrupções macroeconómicas ao Ocidente. Qualquer escalada, que a Rússia ameaça repetidamente, coloca em risco a ordem internacional à sombra da qual conseguiu singrar.