Portugal
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Chegar atrasado antes de ir de férias

Não tivesse um processo manchado pela corrupção atribuído o Mundial ao Catar — e levado à posterior decisão de realizar o torneio em novembro e dezembro — e o planeta estaria, neste momento, de olhos postos na competição que transforma o globo numa grande bola que roda ao ritmo de corações nos diversos cantos da casa em que habitamos. Ao decorrer em datas em que a temperatura no Médio Oriente é mais propícia à prática desportiva, foi aberto um buraco no calendário internacional.

Depois de duas temporadas marcadas pela pandemia, com compressão de datas e pouco descanso, quem manda no futebol europeu achou boa ideia colocar quatro jogos em 11 dias, numa exigência competitiva acrescida antes de nova época em que, com um Mundial entalado a meio da campanha, os jogos se sucederão. Além de tudo o que se possa escrever sobre o cansaço e desgaste, é a sensação de saturação competitiva que leva a que esta catadupa de desafios que enchem o calendário faça pouco sentido.

Foi neste contexto que Portugal foi à Suíça para nova partida do grupo 2 da Liga A da Liga das Nações. Com Ronaldo, João Moutinho e Guerreiro de fora por "gestão", a sensação de pré-férias era evidente no relvado em Genebra. E, com esse aroma no ar, menos de 60 segundos bastaram para ditar o resultado.

Ainda o primeiro minuto não estava completo no relógio e já Shaqiri tinha aberto caminho para que Widmer, sem oposição, cruzasse da direita. Na área, também perante a passividade portuguesa, Seferovic cabeceou para o 1-0. Menos de 60 segundos e já o resultado estava feito. Com a Espanha a bater a República Checa por 2-0, a liderança do grupo passou para o outro lado da fronteira.

Seferovic cabeceia para o golo

Seferovic cabeceia para o golo

eurasia sport images/getty

Portugal voltou à Suíça, onde, face ao apoio dos imigrantes, atua sempre em casa — o que foi evidente com o entusiasmo ao cantar o hino, por exemplo. Mas, para Fernando Santos, as terras helvéticas foram o local da primeira derrota num jogo oficial, em 2016, então na ressaca do triunfo no Europeu e também sem Cristiano Ronaldo. Apesar do calor dos imigrantes portugueses, a Suíça voltou a não ser local feliz para a seleção.

Com sete mudanças no onze inicial, Portugal chegou tarde ao encontro, não só pelo 1-0 sofrido na madrugada do duelo, mas também por um jogo desconexo e impreciso. Aos 12', o árbitro marcou penálti por braço de Nuno Mendes mas, após consulta do VAR, foi descortinada uma falta prévia sobre André Silva.

No primeiro tempo, só Danilo — um dos três futebolistas que fez os 360 minutos nestes quatro encontros, tal como Pepe e Cancelo, voltando Fernando Santos a não usar alternativas no centro da defesa — esteve perto do golo de cabeça. Omlin fez a primeira das oito defesas de uma noite inspirada.

fabrice coffrini/getty

Ao intervalo, o desinspirado Otávio deu lugar a Gonçalo Guedes e Portugal não tardou a criar perigo. Aos 49', uma recuperação de bola de Nuno Mendes em zona adiantada permitiu a André Silva finalizar, mas Omlin defendeu. Pouco depois, Seferovic, num contra-ataque rápido, rematou ao lado em boa posição, mas seria o último assomo dos locais. Nos últimos 30 minutos, o duelo foi um monólogo português, que encostou os suíços à sua baliza.

A entrada de Bernardo Silva, aos 62', trouxe criatividade e esclarecimento ao jogo de Portugal, que também melhorou com a energia de Diogo Jota e Matheus Nunes. Mas Omlin foi detendo as investidas do canhoto do City, do dianteiro do Liverpool e de Guedes.

Com Portugal muito subido no terreno, havia espaço para que os suíços pudessem sair em ataques rápidos. Mas Pepe voltou a não acusar os 39 anos nem o facto de estar, a meio de junho, a disputar a última partida de uma campanha desgastante e a quarta em poucos dias. No dia em que chegou às 128 internacionalizações e superou Luís Figo como segundo jogador com mais presenças por Portugal, o central do FC Porto brilhou na antecipação e desarme, sendo crucial para o sufoco a que a equipa de Fernando Santos submeteu os da casa.

Uma das defesas de Omlin

Uma das defesas de Omlin

fabrice coffrini/getty

Nos instantes finais, e já com Ricardo Horta em campo com o número 7 que tantos associamos a outro corpo, Pepe juntou-se ao assalto à baliza rival. Em cima do minuto 90, o defesa roçou por duas vezes o empate, mas numa ocasião Omlin defendeu e noutra, após cruzamento de Nuno Mendes, o capitão não teve pontaria.

O canto do cisne de Portugal deu-se já em tempo de compensação, com Diogo Jota, no último lance da partida, a não ter precisão. Consumava-se nova derrota na Suíça e a perda de liderança no grupo, com a Espanha com oito pontos, mais um que Portugal e mais quatro que a República Checa, estando a Suíça em último com os três pontos que obteve na noite de Genebra. Entre o adormecimento dos primeiros segundos e o brilhantismo de Omlin, Portugal fecha a temporada com um amargo de boca.