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Com citação de Tony Blair, Keir Starmer sente que “este é um momento Labour

Líder trabalhista discursou na conferência anual do partido animado por uma sondagem favorável e num momento em que o Governo de Liz Truss está a braços com uma forte reacção dos mercados ao seu plano fiscal e económico.

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Líder dos trabalhistas discursou em Liverpool e prometeu um plano de investimentos em várias áreas HENRY NICHOLLS/Reuters

Animado por uma uma sondagem do YouGov para o The Times que coloca o Partido Trabalhista com 17 pontos percentuais de vantagem sobre o Partido Conservador, Keir Starmer apresentou-se esta terça-feira perante os militantes para lhes dizer que “este é um momento Labour”.

Em Liverpool, onde decorre a conferência anual do partido, o líder trabalhista parecia estar em plena campanha eleitoral, discursando durante quase uma hora para revelar as traves mestras de um futuro Governo por si liderado e desferir ataques ao acossado executivo conservador.

Na segunda-feira, depois de o ministro das Finanças de Liz Truss ter anunciado um corte nos impostos a rondar os 45 mil milhões de libras, a moeda britânica atingiu mínimos históricos de cotação devido ao receio dos investidores de que o plano leve o país para um nível de endividamento insustentável.

O ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, reuniu-se de emergência esta terça-feira com banqueiros, seguradores e gestores de activos da City londrina para lhes transmitir a sua “confiança” no plano que traçou. Além de ajudas directas a cidadãos e empresas para fazer face aos custos crescentes da energia, ele assenta num substancial corte de impostos que beneficia sobretudo as grandes empresas e os mais ricos com o objectivo de potenciar o crescimento económico (uma política conhecida como “trickle-down economics”).

“É difícil não concluir que isto vai requerer uma resposta significativa em termos de política monetária”, admitiu o economista-chefe do Banco de Inglaterra, Huw Pill, dando a entender que pode haver uma grande subida das taxas de juro nos próximos tempos. A instituição já tinha de manhã comunicado que “não hesitará em alterar as taxas de juro se vir que é necessário”.

Foi com este pano de fundo que Keir Starmer subiu ao palco de Liverpool. “O Governo perdeu o controlo sobre a economia britânica. E para quê? Não é para vocês, não é para a classe trabalhadora, é para cortar impostos ao 1% mais rico da nossa sociedade”, disse o líder trabalhista, cuja ministra-sombra para as Finanças já tinha prometido reverter as decisões tomadas na sexta-feira.

“A trickle-down economics não funciona. A Grã-Bretanha não vai ficar melhor só porque os ricos ficaram mais ricos”, criticou Starmer. “Os conservadores dizem que não acreditam em redistribuição. Mas acreditam, dos pobres para os ricos”, afirmou também.

A questão, para os trabalhistas, é que o Governo de Truss acabou de tomar posse e não há eleições à vista. Starmer diz-se preparado para uma maratona: “Os próximos dois anos vão ser duros. Os tories querem um quinto mandato e não vão olhar a meios para o conseguir.” A meta ficou traçada neste discurso – apresentar-se aos eleitores como “o braço político do povo britânico” (uma citação explícita de Tony Blair) e como um partido de centro.

Enumerando problemas no Serviço Nacional de Saúde, que disse estar “de rastos”, no “Brexit” e no sistema energético britânico, Starmer anunciou um conjunto de intenções de investimento, ora contratando médicos e enfermeiros para os hospitais públicos, ora criando uma empresa estatal de energia, a que chamou Great British Energy.

“Gostava de estar aqui a dizer-vos que o Labour vai resolver todos os problemas, mas o dano que eles causaram é tão grande que o resgate vai ser mais difícil do que nunca”, disse já perto do fim.

As próximas eleições do Reino Unido devem acontecer no máximo até Janeiro de 2025, a menos que o Parlamento seja dissolvido antes disso pelo rei Carlos III.