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Com Costa a ouvir, Moedas pede “vontade de mudança” e “ambição ao país”

Mesmo sem ouvir, quem apenas lesse o discurso de Carlos Moedas, reconheceria o atual presidente da Câmara de Lisboa em várias referências habituais: a importância da política supra-partidos, o confronto político “saudável”, “sem presunções de superioridade moral”, um confronto que “sempre recusou radicalismos”. E ainda, claro, as referências às pessoas. “Fazer política para as pessoas, com as pessoas, ouvindo as pessoas, e não fazer uma política de impor às pessoas aquilo que os políticos acham que deve ser a sua vida.”

Foi, ainda assim, um discurso mais para o país do que para a cidade. É certo que Moedas se referiu à “grande varanda” que tinha atrás, a dos Paços do Concelho, onde foi proclamada a República há 112 anos, e à cidade de Lisboa, que “foi nesse dia protagonista de mais uma grande mudança na vida nacional”. Mas a mensagem foi sobretudo centrada na “audácia” de fazer diferente, a sugerir “ambição ao país” e a apelar à vontade de mudança “contra o desânimo e a descrença”. Era a primeira vez que um político da oposição discursava no 5 de Outubro perante o Governo PS liderado por António Costa. E, em alguns momentos, as palavras de Moedas soaram quase como as de líder dessa oposição.

No púlpito ouviam-no o primeiro-ministro, sentado ao lado do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e de Rosário Farmhouse, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. À frente, perfilavam-se cerca de 200 convidados, vários ministros do atual Governo, nenhum deles Fernando Medina, o antecessor de Moedas na presidência da autarquia. A cerimónia do 5 de Outubro de 2022 foi por isso de estreias, mas também de regressos, depois de dois anos em que se cumpriu em pouco tempo e com as distâncias de segurança a que a pandemia obrigou.

Moedas recebe o Presidente da República, no regresso das cerimónias do 5 de Outubro ao formato habitual

Moedas recebe o Presidente da República, no regresso das cerimónias do 5 de Outubro ao formato habitual

tiago miranda

Toda a realidade política precisa dessa vontade de mudança”, insistiu Moedas, estabelecendo um paralelo entre o espírito que animou os republicanos há mais de um século e aquele de que o país precisa num mundo de “incerteza e instabilidade”. Alterações climáticas, guerra na Europa, crise inflacionista, fim dos discursos sobre “o fim da História”, fim da “unipolaridade dos últimos 30 anos”, agora substituída “por uma multipolaridade imprevisível”.

É nesse contexto que “a vontade de mudança que a nação, em momentos igualmente críticos, demonstrou no passado, serve de inspiração para não nos entregarmos à resignação, à inação, e ao desânimo”. Moedas repetiu várias vezes a palavra audácia. Para quê? “Audácia para crescer mais, audácia para libertar a criatividade dos portugueses, audácia para libertar as famílias, as empresas, a sociedade civil.”

E aí o autarca apontava ao Governo, dando um sinal de virar de página em relação aos anos em que a Câmara de Lisboa e o executivo da capital tinham a mesma cor. “Devemos querer mais do que apenas convergir com a Europa”, não deixar que o país se veja “fatalmente destinado a cair para a cauda” dessa Europa.

Para Moedas, isso significa “um país que liberte os portugueses do jugo fiscal que se torna insuportável para as suas vidas”. Em vésperas de ser apresentado o Orçamento do Estado 2023, “não nos podemos resignar perante a estagnação económica” e “devemos querer um país capaz de crescer de forma sustentada e sustentável”.

O oposto disso é a “estagnação”. “Neste dia, é nosso dever assegurar que o país tem um projeto de futuro”, um futuro que “exige também ação, não inação ou reação”, seja “na saúde, na transição energética, na habitação”. Recuperando a tradição municipalista “que inspirou muitas figuras, republicanos e não republicanos, durante os momentos de angústia institucional, social e moral dos finais do século XIX e princípios do século XX”, Moedas chamou a si a responsabilidade. “Essa ação, quando não pode partir do Estado central, deve ser assumida pelos municípios, que têm a responsabilidade política mais direta sobre os cidadãos.”

“Só precisamos da audácia”, fechou, à volta da mesma ideia, de exigência e ambição, que veria Marcelo Rebelo de Sousa validar minutos depois. “Precisamos de audácia para superar a estagnação, para defender a liberdade, para proteger a democracia.”