Portugal
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Fátima Lopes, da Madeira para o mundo da moda e não só

Não é para qualquer um celebrar 30 anos de carreira quando a mesma ainda está em alta, com claros sinais de vitalidade e de projetos para o futuro, mas é o que acontece com a estilista portuguesa Fátima Lopes, uma guia turística de profissão que, em boa hora, deixou a Madeira porque queria conquistar Lisboa mas acabou por rasgar fronteiras e tornar-se num ícone da moda internacional.

Este fim de semana voltou a surpreender com um desfile sensual e transgressivo em que 80 modelos deram o corpo às suas mais recentes criações, ora ousadas ora deveras provocantes … muitas malhas, muitas transparências, micro mini saias, tops que deixam (ante)ver tudo, botas e brilhantes que deixaram ecoar uns “Épico! Top! E Bravo” ao longo do evento mas claro que não faltaram outras combinações bem mais usáveis pela maioria e bastante consensuais…tudo porque a alma que caracteriza a marca Fátima Lopes estava lá, da cabeça aos pés.

d.r.

No Pavilhão da Tapada da Ajuda, em Lisboa, quase duas mil pessoas aplaudiram o talento e o trajeto da mulher em corpo de menina que ficou na História, por algumas razões…como o facto de ter criado e vestido o biquíni mais caro do mundo, atualmente em Antuérpia, inteiramente feito com ouro e diamantes, avaliado em um milhão de euros, e de ter sido a primeira mentora a organizar um desfile na Torre Eiffel. Estes são apenas alguns exemplos do arrojo da conterrânea de Ronaldo.

Se o jogador brilha no futebol, Fátima tem-se distinguido na roupa, acessórios, calçado, marroquinaria, têxteis para o lar, canetas e joias, transformando em arte quase tudo o que rabisca, primeiro por instinto, depois com afinco e muito trabalho.

Diz que desenha desde que se conhece, que se inspira nos outros, no bulício da cidade, na calmaria do campo, na singularidade de terras e costumes que vai conhecendo quando viaja.

Reflexos visíveis ainda agora nesta recente coleção ultrassexy a pensar em realçar quer a feminilidade delas quer a masculinidade dos homens, cada vez mais preocupados com a imagem que passam socialmente.

No recinto do desfile três dezenas de modelos irónicos pressagiavam o que se ia passar na passarela. Roupa atrevida, colante, fluida, curta e comprida, com cor, assimetrias, tecidos originais e muito brilho, sendo visível a qualidade dos materiais e o cuidado na confeção, como no vestido que a estilista usou para fechar o evento, cravejado com cristais swarosky ali pacientemente colocados, manualmente, um a um.

Do presidente do Governo Regional da Madeira, passando pelo presidente da Câmara de Lisboa até muitos outros rostos importantes da política, da sociedade e cultura, parecia não faltar ninguém. E houve mesmo quem acabasse a ter de ver o desfile da parte de fora do recinto, tal não era o número de presentes que não quiseram faltar.

Se Fátima Lopes queria ousar e agradar conseguiu-o de novo, com maioria absoluta.

Recorde-se que muito antes deste houve outros desfiles memoráveis e, entre 43 já realizados, contam-se por exemplo os do Louvre, os da Torre Eiffel e no Musèe de l’Armèe´, em Paris, onde está o túmulo de Napoleão Bonaparte. Já imaginou dezenas de manequins famosos a desfilar sobre 15 centímetros de altura de água? Aconteceu, pela mão de Fátima Lopes.

Com uma vida marcada pelos êxitos transversais a várias áreas, Fátima diz de si própria ser “uma mulher normal, como tantas outras, que sonha muito, trabalha muito, que gosta de si própria e de agradar aos outros”.

Por mais talento que se tenha, nada acontece sem muito trabalho e Fátima diz que “na vida não há impossíveis, só muito difíceis”; por isso, apesar da carreira já lhe ter dado inúmeras distinções nacionais e internacionais, ainda tem um sonho por concretizar que é “completar mais 30 anos com igual capacidade criativa e meios para o fazer, pois não se imagina a fazer outra coisa se não trabalhar na Moda”.

Nos novos modelos há a originalidade e a qualidade a que já habituou o público e a louvar há a teimosia de Fátima em usar sempre ”materiais de qualidade, duráveis e sustentáveis, fábricas e mão de obra portuguesas” com a preocupação de privilegiar o que é nacional e que, felizmente, é também cada vez mais reconhecido noutros países.

Para Fátima Lopes, “a moda não tem que ser efémera, tem que durar mais do que para uma estação, uma vida!”

Diz que tem “clientes que usam peças que lhe compraram há 20 e há 30 anos, o que significa que as peças têm de ter boa qualidade e ter linhas que as tornem intemporais se assim o quisermos, se não, podem sempre vir a ser alteradas, otimizadas, antes de se ir a correr comprar roupa nova”.

Diz que gratidão é a palavra que caracteriza estes seus 30 anos, pelos apoios, amigos e clientes que tem tido e mantido neste seu percurso “tão, mas tão, gratificante”.

Irreverente sempre foi, está-lhe no ADN e se a marca de início não agradava a todos, sobretudo aos que pouco ou nada entendiam de Moda, agora goste-se muito ou pouco não há quem não lhe reconheça o valor e lhe agradeça a lufada de ar fresco que trouxe a um Portugal um pouco bafiento e cinzento, até conhecer a panóplia de cores e as roupas de vanguarda que Fátima Lopes continua a assinar com brio.

Desde a primeira Fashion Week em Paris, quando a cidade Luz aceitou, respeitou e aceitou a Fátima Lopes, passando a considerá-la como uma referência incontornável no sector, até este outono de 2022, muito se passou.

21 anos de desfiles consecutivos deram-lhe espaço e glória que continua a alimentar “com engenho e arte”, enquanto houver paisagens, música, pessoas e poesia que a motivem, que a versatilidade da inspiração alastra também às joias e aos móveis de sua casa…

A criadora de moda diz que “Portugal hoje em dia é em tudo muito diferente" do Portugal de quando começou, "há muito mais informação, mais desejo, os portugueses estão mais orgulhosos de si e do que é feito em Portugal e já entendem que é melhor ter uma boa peça que dure 10 ou 20 anos do que comprar uma cópia barata ou um modelito feito na Ásia, uma roupa que se usa uma ou duas vezes e tem de se deitar fora”.

Sente que há mais respeito e mais autoestima no povo a que nunca deixou de pertencer com orgulho nas suas raízes que continua a honrar.

Com algumas festas à porta, como seja a próxima Gala dos Globos de Ouro, no próximo dia 2, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, sugere que não se perca o bom gosto nem o glamour…vestidos em pailletés, assimétricos ou não, compridos, ultradecotados, com grandes rachas, fluidos, em preto, vermelho, verde esmeralda e dourado para elas, smokings com bom corte e tecidos originais para eles, se quiserem ir de uma forma mais fora do normal, ousar e arriscar também é fazer moda.

É sempre importante ”o jogo de aliar ao design e ao corte original os materiais especiais” sem esquecer os acessórios “simples mas elegantes”, remata , com uma das suas gargalhadas e gestos que enchem a sala e nos fazem sorrir.

Simples e elegante, misteriosa e provocadora, inteligente, eclética, talentosa, exigente e perfeccionista são apenas alguns dos traços que caracterizam a Fátima Lopes que tanta moda tem dado ao mundo e tanto mundo tem dado a Portugal.