Uma viagem de Boston para Lisboa pode ser tranquila ou caótica. Será tranquila para quem entrar no país com passaporte da União Europeia, e caótica para quem for de outra nacionalidade. Nuno Figueiral possui ambos, e é o europeu que costuma utilizar quando visita sozinho a capital portuguesa. Porém, este domingo vinha a Lisboa acompanhado pela mulher e as duas filhas norte-americanas, e para se manterem todos juntos decidiu usar o documento daquele país.
"Quando entramos na sala, estava a abarrotar: havia uma fila de centenas de pessoas. Em duas horas, nem sequer havíamos percorrido a metade", diz ao Expresso este empresário a residir nos Estados Unidos há mais de três décadas. Nessa altura, tomou a decisão de mudar para a fila da UE a fim de recolher a bagagem. "Demorei minutos. Mas fiquei à espera delas mais duas horas." Ao todo, foram mais de quatro horas para três cidadãs dos EUA passarem pelo crivo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que "só tinha três balcões abertos".
"Em geral, quem vai para a fila dos passaportes internacionais tem já várias horas de voo de longo curso, com transferências. Havia crianças e idosos quase a desmaiar, sem condições nem apoio nenhum. Nem um copo de água", lamenta Nuno Figueiral, que veio de Boston num voo da TAP que descolou com um atraso de três horas. Ele e a família chegaram à uma da tarde e só abandonaram o aeroporto por volta das 17h.
Acácio Pereira, presidente do sindicato do SEF, reconhece que o fluxo de passageiros no Aeroporto Humberto Delgado "é muito intenso" mas entende que, se há falhas, estas não podem ser atribuídas ao SEF. "Não se deve acusar o SEF, mas o aeroporto. Só no domingo de manhã chegaram 66 voos. Faça as contas a 200 pessoas por voo. Não há milagres", sublinha, reclamando que o fluxo do aeroporto de Lisboa, com "voos sobrepostos", "não é comportável".
Confrontado com o facto de haver apenas três balcões do SEF a funcionar, Acácio Pereira contrapõe que tal é "improvável" e não é essa a indicação que lhe foi dada. "Tenho indicações de que foram afetadas pessoas do país inteiro para dar conta deste fluxo, e assim será de novo a partir do dia 15. Mas é uma meia solução: destapa-se de um lado para tapar do outro."
A ANA — Aeroportos de Portugal já reagiu ao caos verificado este domingo, afirmando num comunicado à imprensa que a demora dos passageiros nas chegadas se prendem com a "insuficiência de recursos e de postos de controlo de fronteira SEF em funcionamento".
"Embora sabendo que o plano de contingência anunciado pelo Ministério da Administração Interna está em implementação de forma gradual, a ANA já alertou as entidades competentes, nomeadamente o SEF, e aguarda que se assegure um reforço contínuo com a maior brevidade", rematou a empresa que administra os aeroportos portugueses, notando que já reforçou o apoio aos passageiros, nomeadamente através da distribuição de água.