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Laboratório da PJ recebe 15 mil amostras de crimes por ano

Correio da Manhã
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Em 70% dos casos, a Polícia Científica consegue determinar um perfil genético, mas nem sempre se chega ao nome do criminoso.
Lisboa, 14 de fevereiro de 2021, domingo. Fernando Resende, operário fabril aposentado, de 78 anos, sai de casa pelas 16h00 para um passeio. Não regressa. O seu corpo, com marcas de extrema violência, é encontrado na manhã seguinte no Parque José Gomes Ferreira, em Alvalade. Foi morto à pancada e o crânio tinha sido esmagado com uma pedra. Não há testemunhas, ninguém viu nada, ninguém filmou. A vítima não tinha inimizades, não havia amantes no horizonte nem nenhum encontro secreto marcado. Era um simples cidadão que ia a passar. Dois meses e meio depois, a PJ encontrou, pelo ADN, o assassino, um homem de 26 anos que até já estava em prisão preventiva pela prática de outro crime violento noutra cidade da Área Metropolitana de Lisboa.Este é um dos casos em que só a biologia criminalística conseguiu dar resposta num cenário de crime em que não havia mais nada. Ao tentar ocultar o corpo, o homicida arrastou-o durante alguns metros, acabando por o largar atrás de um arbusto. Nesse esforço, deixou vestígios biológicos - sangue e cabelos - no vestuário da vítima. A recolha destes vestígios, a sua análise e posterior identificação foi feita pelo Laboratório de Polícia Científica (LPC) da PJ, que recebe, em média, cerca de 2000 pedidos por ano no âmbito da genética criminalística. Estas solicitações são originárias da PJ, da GNR e a PSP, e correspondem à análise de cerca de 15 mil amostras, por ano, recolhidas em cenários de crimes. Segundo fonte do LPC, em média, em 70% dos casos consegue-se determinar o perfil genético, o ADN. Este perfil é uma espécie de código de barras, com marcadores únicos, que todos transportamos.Mas a análise de uma amostra biológica nem sempre termina com o nome do autor de um crime. Alguns vestígios podem ter sido contaminados com abrasivos ou por putrefação, por exemplo. O melhor vestígio é o sangue - em 90% dos casos consegue-se determinar um perfil. Se o contacto resultar da sudação ou da escamação – se tocarmos com a mão numa porta, num saco, num volante, a probabilidade de emissão de perfil já desce para os 60%. Se for um cabelo, essa probabilidade cai ainda mais, para cerca de 30%. E esse cabelo tem de ter raiz.Havendo perfil - mais completo ou menos completo - parte-se para a fase seguinte. É preciso compará-lo com algo, com um candidato. Regra geral, esse nome já faz parte da investigação. Quando não é possível fazer comparações decorrentes na investigação, recorre-se à Base de Dados de Perfis de ADN.

O que é o ADN
O ADN está presente em todas as células do corpo humano que têm núcleo, dentro dos cromossomas, e por isso pode ser recolhido no sangue, saliva, urina ou cabelos. O ADN de uma pessoa tem metade do ADN da mãe e metade do ADN do pai.

No crime desde 1984


ADN é a sigla para ácido desoxirribonucleico. A técnica da impressão genética foi desenvolvida em 1984 pelo britânico Sir Alec Jeffreys e utilizada pela primeira vez para condenar Colin Pitchfork por causa dos assassinatos de duas meninas no Reino Unido em 1983 e 1986. Alerta ao MP
Quando há um cruzamento na base de dados, o Ministério Público (MP) é avisado. Este solicita depois informação.Plataforma ajuda com desconhecidos
A base de dados de ADN também contém perfis para fins de identificação civil, embora em menor número. Algumas são de pessoas não identificadas e outras de familiares que procuram alguém.Despiste de drogas é a perícia mais frequente no LPC
Apesar de a biologia ter um papel importante no trabalho do LPC, a toxicologia é a perícia mais frequente nos cerca de 30 mil pedidos nas diferentes disciplinas. Segundo fonte do LPC, todas as substâncias que são apreendidas têm de ser analisadas para se verificar se são ou não droga e, em caso de serem, em que tabela se inserem e qual o princípio ativo. Os restantes pedidos visam outras áreas laboratoriais como balística, papiloscopia/impressões digitais, físico-química, explosivos, escrita manual, documentos e moeda, entre outros.

Base de dados de ADN tem quase 18 mil perfis


Homem, 38 anos, traficante de droga, português e condenado. Este é o retrato da maioria dos perfis que constam na base de dados de ADN, e que no início de setembro, 12 anos e sete meses após a sua criação, tinha 17 948 amostras, a grande maioria de arguidos condenados por crimes dolosos puníveis com pena igual ou superior a três anos de prisão, mesmo que tenha sido substituída. A recolha desta amostra é ordenada na sentença.

Este ano, e até julho, a base de dados permitiu encontrar coincidências entre 26 amostras genéticas recolhidas em cenários de crimes e cujo autor era desconhecido com arguidos condenados. Identificou também 12 perfis no cruzamento dos condenados com bases de dados internacionais. Desde que foi criada, em 2010, esta plataforma já permitiu 251 ligações de condenados com vestígios recolhidos pelas polícias, em território nacional, e de 247 perfis de condenados com amostras biológicas de pessoas desconhecidas a nível internacional.

Segundo Pedro Brito, coordenador do Centro Nacional de Coordenação da Base de Dados de Perfis de ADN, a plataforma tem estado a crescer. “Estamos ligados a 21 países e as perspetivas são continuar a ligar a outros países para ajudar, de forma mais célere, a investigação criminal e a identificação civil.”


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