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Nord Stream: o que se sabe (e falta saber) sobre as misteriosas fugas de gás no Mar Báltico

Mesmo sem estarem em funcionamento, os gasodutos Nord Stream voltaram a preocupar o mundo no início desta semana. Desde a madrugada desta segunda-feira, foram registadas três fugas de gás "sem precedentes” no projeto russo no Mar Báltico.

Quando e onde foram detetadas as fugas?

Segundo dados divulgados esta terça-feira nos media suecos, antes das fugas serem conhecidas, a Rede Sísmica Nacional sueca detetou explosões na região. A primeira foi registada pelas 02h03 de segunda-feira, seguindo-se uma nova explosão às 19h03 desse dia.

As autoridades suecas e dinamarquesas viriam a confirmar já esta terça-feira que tinham detetado durante a noite “dois pontos de fuga” no Nord Stream 1, o gasoduto que foi desativado no início de setembro depois de meses de tensões internacionais em que a UE acusou a Rússia de fazer chantagem energética.

Os dois países acrescentaram que as fugas “sem precedentes” foram detetadas depois de uma outra fuga, essa no Nord Stream 2, ter sido detetada na noite de domingo para segunda. Este gasoduto, construído em paralelo ao Nord Stream 1, também não estava em funcionamento, uma vez que a Alemanha encerrou o projeto em resposta à invasão da Ucrânia.

A localização das fugas não ficou contudo logo esclarecida, embora se saiba que todas ocorreram nas proximidades da ilha dinamarquesa de Bornholm. Contudo, inicialmente, a informação a circular indicava que ocorrera uma fuga na Zona Económica Exclusiva da Suécia e outra na da Dinamarca. Mais tarde, ainda na terça-feira, foi noticiado que as fugas tiveram lugar perto, mas já fora do limite do território marítimo dos dois países, como mostra o mapa abaixo que tem sido difundido nas redes sociais.

Também esta terça-feira, as forças armadas dinamarquesas divulgaram um vídeo que mostra a fuga de gás. Nele são visíveis áreas a borbulhar nos locais onde o gás emergiu, na superfície do Mar Báltico. Segundo a Euronews, a maior destas perturbações tem mais de um quilómetro de diâmetro e a menor ronda os 200 metros.

Líderes europeus levantam suspeitas sobre “sabotagem”

A maior parte dos líderes europeus pronunciou-se logo esta terça-feira sobre as fugas de gás.

Para a primeira-ministra dinamarquesa, foram "atos deliberados". "A avaliação clara das autoridades é que é um ato intencional e não um acidente", disse Mette Frederiksen numa conferência de imprensa.

A homóloga sueca corroborou estas alegações, afirmando que o incidente será “provavelmente” resultado de "sabotagem".

A presidente da Comissão Europeia garantiu “uma forte resposta” caso se comprove que as fugas foram resultado de "ação de sabotagem". "Agora é primordial investigar os incidentes, obter total clareza sobre os eventos e porquê. Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e levará à resposta mais forte possível", disse Von der Leyen.

Já esta quarta-feira, o chefe da diplomacia europeia também reagiu: "Danos ao Nord Stream 1 e 2 não são uma coincidência e afetam a todos nós", alertou Josep Borrell. “Todas as informações disponíveis indicam que as fugas são resultado de um ato intencional. A interrupção deliberada da infraestrutura energética europeia é absolutamente inaceitável e será recebida com uma resposta robusta e unida”, afirmou Josep Borrell no Twitter.

Rússia rejeita acusações “previsivelmente estúpidas”

O regime russo comentou o caso logo na terça-feira. Durante a habitual conferência de imprensa diária, Dmitry Peskov afirmou não ser possível descartar nenhuma causa, incluindo sabotagem, e defendeu a necessidade de investigar.

Sobre as “notícias muito preocupantes” afirmou: “De facto, estamos a falar de algum dano de natureza incerta a um gasoduto na zona económica da Dinamarca. Isto é um problema relacionado com a segurança energética do continente inteiro.”

O tema voltou a ser abordado esta quarta-feira. No mesmo contexto, o porta-voz do Kremlin foi questionado sobre as declarações dos líderes europeus acerca do envolvimento russo e a possibilidade de sabotagem. “Isso é bastantes previsível e também previsivelmente estúpido. Isto é um problema para nós, porque, em primeiro lugar, ambas as linhas do Nord Stream 2 estavam cheias de gás e o gás é muito escasso… Agora o gás está a voar para o ar.”

O que acontece ao Nord Stream?

Segundo fontes do governo alemão que falaram com o jornal Tagesspiegel, se as fugas nos dois gasodutos não forem reparadas rapidamente, grandes quantidades de água salgada irão entrar na estrutura. Isto causaria corrosão.

De acordo com este órgão de comunicação, os peritos e governantes acreditam que, dada a sua complexidade, o ataque apenas poderá ter sido realizado por um Estado.

A ministra da Defesa alemã já disse que a marinha alemã irá participar na investigação das fugas. Christine Lambrecht defendeu que a situação deve ser esclarecida e os responsáveis identificados rapidamente. “A suposta sabotagem dos gasodutos do Mar Báltico é mais um lembrete de que dependemos de infraestruturas críticas, também submarinas.”

E agora?

No mesmo comunicado em que dão conta das fugas, o Governo da Dinamarca disse que o país iria “incrementar o nível de preparação do sector de eletricidade e do gás”. Não são para já conhecidos mais detalhes.

Nas horas seguintes, muitos analistas tentaram compreender as causas, impacto e possíveis riscos de escalada na região, em reposta a este incidente. Segundo as autoridades dinamarquesas, irá demorar “uma ou duas semanas” até que as fugas sejam inspecionadas.

Numa intervenção na televisão pública sueca durante a manhã desta quarta-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros sueca defendeu que mesmo que a Rússia esteja por detrás das fugas de gás no Nord Stream, a sabotagem não será considerada um ataque à Suécia.

As declarações feitas por Ann Linde na SVT corroboram a interpretação dos analistas que consideram que será pouco provável que o incidente no Mar Báltico gere uma resposta militar por parte da União Europeia. Isto porque, ao contrário da informação inicialmente avançada, as fugas ocorreram perto, mas já fora do limite do território marítimo da Suécia e Dinamarca.

Também o ministro da Defesa da Dinamarca disse não haver razão para preocupação sobre segurança no Báltico. “A Rússia tem uma presença militar significativa na região do Mar Báltico e esperamos que eles continuem a brandir armas”, afirmou Morten Bodskov sobre as fugas de gás no Nord Stream identificadas nos últimos dias.

As declarações foram feitas em comunicado, após uma reunião com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, em Bruxelas.

Em qualquer dos cenários, a Noruega (país que é atualmente o principal fornecedor de gás na Europa) anunciou na noite de terça-feira que vai reforçar a segurança nas suas instalações de petróleo,

"O Governo decidiu implementar medidas para aumentar a segurança da infraestrutura, terminais terrestres e instalações na plataforma continental norueguesa", afirmou o ministro da Energia norueguês, Terje Aasland, em comunicado. “Muitas coisas podem indicar que se trata de uma sabotagem”, declarou Aasland.

[artigo atualizado às 13h56]