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Sam the Kid levou a família musical e a família de sangue a Paredes de Coura. E todos perceberam o hip-hop

Há 22 anos, numa edição marcada pelo nu-metal e pós-grunge, Sam the Kid atuou em Paredes de Coura. Nesta noite de terça-feira, encabeçou um cartaz dedicado em exclusivo à música portuguesa, e não o podia ter feito em melhor companhia. Além de uma orquestra, dirigida pelo maestro Pedro Moreira, e da "sua" banda, os Orelha Negra, o rapper que os documentos conhecem como Samuel Mira chamou a palco outros amigos - NBC e Mundo Segundo - e ainda o seu pai, Napoleão. Foi ao Mira Sénior que coube abrir o segundo concerto de Sam the Kid em Paredes de Coura, com uma declamação intensa de 'Santiago Maior', canção que gravou com o filho em "12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado", de 2016.

Foi a primeira evocação do passado de um espetáculo para o qual Sam the Kid partiu com confessa nostalgia, graças às memórias que guarda da sua estreia neste festival. Elogiando amiúde a energia do público, que bebeu com sofreguidão os refrões de hinos como 'Não Percebes' ou 'Poetas de Karaoke', o rapper de Chelas assegurou uma curiosa continuidade no palco principal. Às narrativas requintadamente escabrosas dos Mão Morta seguiram-se as vinhetas urbanas do cronista de Chelas, com um discurso invariavelmente crítico, vertido em canções palavrosas e incisivas como 'Juventude é Mentalidade' (com a participação do cantor NBC e uma reação especialmente efusiva da plateia).

Além do pai, também o avô de Samuel Mira foi elogiado, na mais introspetiva 'Sangue', canção acompanhada pela projeção de imagens da infância do músico, enquanto uma chuva manda beijava o recinto. A partir daí, e brincando com a letra do outro Samuel do dia, o Úria, o concerto só soube crescer. Mundo Segundo chegou para arrasar em 'Tu Não Sabes', canção acompanha em delírio por gente com os pés no chão e outros empoleirados nas cavalitas de amigos. Outro clássico da lavra de Sam the Kid, 'Não Percebes', prolongou o delírio num espetáculo que já foi apresentado no Campo Pequeno, em Lisboa, e chega ao Porto em outubro.

"Querem ouvir-me rappar durante sete minutos?", perguntou, depois de toda esta excitação, um dos protagonistas do serão. E Paredes de Coura ouviu assim 'Retrospectiva de um Amor Profundo', um longo passeio pelo passado de Samuel Mira enquanto jovem artista, enamorado pelo hip-hop e buscando as suas primeiras oportunidades. 'Sofia', um autêntico conto sobre um amor (e uma gravidez) adolescente, e o clássico 'Poetas de Karaoke' conduziram o concerto até ao final, para o qual ficou guardado um dos mais recentes tours de force do hip-hopper de Chelas, 'Sendo Assim'.

"Estou bué emocionado por ver a vossa energia", agradeceu, pondo o público a entoar um dos cânticos dos festivais deste ano: "esta m... é que é boa", ao som de '7 Nation Army', dos White Stripes. "O meu livro é exclusivo e universal", ouvimo-lo rappar em 'Sendo Assim'. Depois da rendição do anfiteatro natural aos seus sons, não restam dúvidas de que assim é.