Portugal
This article was added by the user . TheWorldNews is not responsible for the content of the platform.

“Uma Casa de Bonecas”, de Ibsen: pessoas de 1879, pessoas de 2022

O ano é 1879. É o ano da publicação e da estreia de “Uma Casa de Bonecas”. É também, tudo leva a crer, o tempo da ação da peça. “É um dia de Inverno” em casa dos Helmer — Nora, Torvald e três filhos pequenos. É Natal, e Nora entra com embrulhos de prendas. Há visitas que entram e saem: o doutor Rank, um velho amigo de família; Kristine, uma velha amiga de Nora; Krogstad, um advogado que trabalha no banco do qual Torvald acaba de ser nomeado diretor. Kristine vive sozinha, e pede a Nora que fale com o marido, para lhe arranjar um emprego; é coisa feita. Krogstad regressa, para falar a sós com Nora.

Quer que ela interceda junto do marido para ele não o despedir, como sabe que vai acontecer; Nora fica aflita, julga não conseguir nada. Há vários anos, Torvald teve de passar bastante tempo em Itália, por razões de saúde; não tinham dinheiro. Com a ajuda de Krogstad, Nora falsificou a assinatura do pai e conseguiu um empréstimo, que tem vindo a pagar. É isso que Krogstad se prepara para dizer a Torvald e tornar público, se for despedido. O Natal é um tormento para Nora. Torvald acaba por saber de tudo, e insulta a mulher. Considera-a desonesta, imoral e incapaz de educar os filhos. Mais tarde, Krogstad decide esquecer o assunto, nada dizer. Torvald fica louco de contente, e diz a Nora que lhe perdoa tudo; volta a chamar-lhe “minha boneca”, “meu passarinho”, e a tratá-la como dantes. Nora sai de casa; abandona o marido e os filhos. Esta é uma peça sobre uma mulher que percebe que o marido não a ama como ela entende que deve ser amada, que percebe que vive numa relação que não lhe confere o direto de “ter opções sobre si própria”, como refere o encenador, em conversa, horas antes do espetáculo; sobre relações de poder, de violência, de dominação. E sobre as relações entre as pessoas que viviam em 1879 e sobre as pessoas que vivem em 2022. / João Carneiro

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

Já é assinante? Assine e continue a ler

Comprou o Expresso?

Insira o código presente na Revista E para continuar a ler