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Vítor Pereira: “Mais importante do que as palavras são as ações para restituir à nossa serra o que ela perdeu”

O “rude golpe” sofrido pelo Parque Natural da Serra da Estrela com os incêndios deste verão, que queimaram 25% do território, deve servir para “a reflexão” das entidades públicas sobre o que fazer para evitar que este cenário se volte a repetir. “Fomos fortemente agredidos por este incêndio”, lamenta Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã. O autarca falava esta tarde, na Universidade da Beira Interior, a propósito da segunda reunião temática promovida pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) com peritos em ambiente para a definição de estratégias para a proteção do património natural do país.

O líder do município diz que dinheiro não é a única solução para o problema dos incêndios, ainda que seja uma componente essencial para a prevenção e conservação, e aponta o dedo à “desertificação que potencia estas situações”. Apoio às comunidades locais, em particular aos pequenos agricultores e negócios locais, é, considera, essencial para a atratividade da região. Para que exista “ocupação do território”, é fundamental “acrescentar valor” às atividades de agricultura, produção animal e pastorícia. “Mais importante do que as palavras são as ações para restituir à nossa serra o que ela perdeu”, reforça.

Nascido e criado, durante 14 anos, na Serra da Estrela, o músico e autor João Gil apelou à conservação do ambiente. Para isso, considera que fazer da região "um polo de atração que não só para o frio" será um passo fundamental para a valorização da riqueza natural

Nascido e criado, durante 14 anos, na Serra da Estrela, o músico e autor João Gil apelou à conservação do ambiente. Para isso, considera que fazer da região "um polo de atração que não só para o frio" será um passo fundamental para a valorização da riqueza natural

nuno fox

O músico e autor João Gil, nascido e criado, até aos 14 anos, na Serra da Estrela, fez questão de marcar presença para lembrar que os incêndios são “um drama que nos acompanha desde a infância” e criticar o que acredita ser “um erro diabólico”. “Todos nós cometemos um erro trágico que é olharmos para o ambiente como se fosse uma coisa estranha a nós”, detalhou. É preciso, sublinha, proteger o património natural como se da nossa casa se tratasse.

Ao longo da tarde desta sexta-feira, perto de duas dezenas de peritos em questões ambientais e representantes de instituições ligadas à proteção da natureza sugeriram objetivos e estratégias para melhorar a conservação do património em Portugal. Esta reunião temática foi a segunda de sete que decorrem até março, em várias zonas do país, e fazem parte do debate aberto que o ICNF quer promover para definir, no final, uma estratégia nacional que deverá ser adotada pelo Ministério do Ambiente.

Conheça as principais conclusões da segunda reunião do projeto Missão Natureza 22, promovido pelo ICNF e ao qual o Expresso se associou:

Perto de duas dezenas de especialistas em questões ambientais e representantes de instituições ligadas à proteção da natureza debateram estratégias para melhorar a conservação da biodiversidade

Perto de duas dezenas de especialistas em questões ambientais e representantes de instituições ligadas à proteção da natureza debateram estratégias para melhorar a conservação da biodiversidade

nuno fox

Recessão económica ameaça conservação da natureza

  • No encerramento da segunda sessão de trabalho temática, o presidente do ICNF considera que não será possível “chamar à atenção para a biodiversidade quando as pessoas não tiverem emprego e quando as empresas entrarem em insolvência”. Nuno Banza diz ser preciso “pegar nesta situação crítica e transformá-la numa oportunidade”, em especial quando Portugal terá, no próximo quadro comunitário de financiamento, €250 milhões para aplicar na proteção ambiental.
  • Defende ainda que é importante não repetir erros do passado, nomeadamente com a “forma errática” como, por vezes, foi aplicado. Para o evitar, acredita que é fundamental abrir o debate sobre a estratégia a adotar às “instituições, ONG, universidades” e outros agentes da sociedade.

Cadastrar para gerir melhor

  • Entre as principais sugestões deixadas pelo grupo de especialistas que se reuniu esta sexta-feira está a aposta no cadastro de terrenos em Portugal, de forma a conhecer os seus proprietários e apoiá-los na melhor gestão da biodiversidade.
  • Peritos pedem ainda que o Estado adquira terrenos considerados estratégicos para a proteção da natureza, aumentando a área sob gestão pública. Em simultâneo, apontam o pagamento de serviços de biodiversidade como ferramenta essencial.
  • Reconhecem também que não é possível proteger todas as espécies ameaçadas, pelo que sugerem a criação de uma lista de espécies consideradas prioritárias para a preservação dos habitats.
  • No seguimento da reunião, será realizada uma ação de voluntariado na área ardida do Parque Natural da Serra da Estrela para semear centeio que ajudará à estabilização dos solos. Acontece a partir das 09h deste sábado.