Algumas das personalidades que fizeram parte da história dos comunistas portugueses estão ausentes do livro “100 Anos de Luta”, lançado para comemorar o centenário do PCP. Júlio Fogaça, que antecedeu Álvaro Cunhal na liderança e que foi afastado por ser homossexual, é um dos omitidos, tal como o histórico Pavel (Francisco Paula Oliveira) que substituiu o primeiro líder comunista Bento Gonçalves. Francisco Martins Rodrigues, militante que participou na célebre fuga da prisão de Peniche e que viria a fundar a UDP.

Política
Carlos Costa, que foi um dos resistentes antifascistas com maior número de anos de prisão (15 no total), só é referido numa breve passagem do livro e enquanto "dirigente do MUD Juvenil". Costa, que foi membro do comité central durante décadas e responsável pela Comissão de Controlo da comissão política do PCP foi afastado da direção partidária em 2012, depois de liderar um grupo de ortodoxos que criticaram, no interior do partido, o alegado 'revisionismo' e os desvios 'sociais-democratas' que consideravam estar a marcar o percurso partidário.
Entre os excluídos de um papel relevante na história do comunismo português estão todos os que pertenceram à ala dos chamados ‘renovadores’, como Domingos Lopes, Barros de Moura ou Edgar Correia. Alguns destes dirigentes, que chegaram a assumir lugares de destaque na direção foram expulsos do PCP em 2002, como é o caso de Carlos de Brito, que chegou a liderar a bancada parlamentar e foi um dos elementos de ligação com os capitães que organizaram o 25 de abril.
Zita Seabra, que liderou a UEC e foi alto quadro do partido ainda na clandestinidade, também não é referida. A militante comunista foi banida do partido e acusada de 'desvios burgueses' e, mais tarde, aderiu ao PSD aceitando mesmo concorrer como cabeça de lista dos sociais democratas à Câmara de Vila Franca de Xira, nas eleições autárquicas de 1997.
Outro dos ausentes do livro sobre a história do PCP é Manuel Carvalho da Silva, militante comunista e líder, durante 25 anos, da CGTP. A ausência é tanto mais notória quanto o livro inclui um capítulo sobre o papel do movimento sindical, onde não surge nunca nem o nome, nem um fotografia de Carvalho da Silva. O mesmo acontece como Miguel Portas ou João Semedo (dirigentes do PCP e fundadores do Bloco de Esquerda), assim como com João Amaral e Luís Sá que, recorde-se, morreu de enfarte, em 1999, quando era apontado como um possível sucessor de Cunhal na liderança comunista.