Portugal
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Qualidade do serviço: atrair, formar e pagar melhor

Tempos de espera longos, funcionários inexperientes, pedidos que ficam por atender e equipas sobrecarregadas. A escassez de trabalhadores no sector do turismo agudiza-se numa altura em que a procura por Portugal como destino turístico ultrapassa os níveis de 2019 e volta a ser vital para a economia.

Mas com cerca de 50 mil vagas por preencher — de acordo com o estudo do World Travel & Tourism Council (WTTC) que fixa neste valor o défice de recursos humanos — e as escolas do Turismo de Portugal (TdP) a formarem menos de mil alunos por ano, serão necessárias várias décadas para equilibrar a balança da oferta e da procura. Contratação de estrangeiros, formação interna e aumento de salários têm sido as “armas” usadas pelas empresas.

Qualidade “garantidamente” afetada

Pela escassez de recursos humanos e pelos “baixos preços praticados na restauração”, a qualidade do serviço é “garantidamente afetada”. Com décadas de experiência, restaurantes em Portugal, no Brasil e uma nova abertura prevista para Cascais, Vítor Sobral admite ser cada vez mais difícil contratar. “A lei não ajuda. Como é possível pessoas de certas áreas estarem no desemprego se há tanta escassez no mercado?” questiona.

Já aprovado, o regime de facilitação para a emissão de vistos em Portugal para os cidadãos da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa promete facilitar a entrada de estrangeiros, mas o fluxo migratório não é imediato. Vítor Sobral, que tem recorrido cada vez mais a profissionais cabo-verdianos, venezuelanos e brasileiros, defende uma estratégia concertada: “Precisamos de receber imigrantes.”

Melhores salários, mais descanso

Proprietário de três restaurantes e um hotel em Bragança, António Geadas sublinha que sem “formação, ordenados justos, dias de descanso e deixar de ver a área como um mal menor não podemos augurar um salto qualitativo no serviço”, apontando ainda o aumento de preços: “Em 2022 a operação é 25% mais cara do que em 2019.”

Com uma taxa de ocupação superior à de 2019, Luís Cruz, diretor-executivo do grupo Hotusa, que detém as insígnias Eurostars e EXE, com 24 hotéis em Portugal, não sente que a escassez de trabalhadores afete a qualidade do serviço, “muito determinada pela formação que damos”, embora prejudique “a eficácia do serviço e o tempo de resposta”. É preciso “acrescentar valor à profissão”, defende. No grupo, além de formação interna, são parceiros do The Power MBA — Tourism & Hospitality Edition by Keytel, uma especialização onde grupos hoteleiros podem participar gratuitamente.

Mil alunos por ano

Tem sido um dos pontos estratégicos para o TdP. Nas escolas espalhadas pelo país a formação vai ao encontro das necessidades do mercado, exceto na quantidade. São menos de mil os alunos formados por ano, com preferência pelos cursos de Cozinha e Pastelaria. Das 12 escolas tuteladas pelo TdP saíram, em 2019, apenas 910 alunos, que frequentaram cursos de Especialização Tecnológica, Profissio­nais de Dupla Certificação ou On-The-Job. Foram 950 em 2020 e 725 em 2021, número que reflete o adiamento do estágio para 2022, devido à pandemia. Segundo dados de 2020 do “Estudo de Inserção Profissio­nal”, 96,7% dos alunos aqui formados ficaram a trabalhar no país.

75 mil profissionais em três anos

Aumentar os níveis de qualificação no turismo é uma das prioridades da Estratégia Turismo 2027. Desde o início de 2021 foram organizadas 1530 ações de formação para mais de 123.758 participantes. Um dos projetos mais emblemáticos pretende capacitar 75 mil profissionais em três anos, de forma gratuita e adaptada às necessidades locais. O Formação + Próxima arrancou em janeiro e já chegou a 2100 participantes em 84 municípios. O objetivo passa também por qualificar pessoas de outras áreas e/ou desempregados que queiram ingressar no sector.

200 mil queixas por ano

Reflexo da falta de formação, a má educação no atendimento está entre as queixas que chegam à Deco Proteste. A associação de defesa do consumidor detalha ao Expresso que recebeu, desde 2019, 164 queixas relativas a restaurantes e 1255 no que concerne a alojamentos. Ao mau atendimento somam-se faturas incorretas e tempos de espera, na restauração, e “discrepância entre o publicitado e a realidade, limpeza dos quartos, qualidade das refeições ou furto nos quartos”, no alojamento.

Responsável por gerir as queixas registadas nos Livros de Reclamações, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) recebe “dia­riamente denúncias e reclamações relativamente a estabelecimentos de restauração e hotelaria, num total de cerca de 200 mil documentos por ano. 12% correspondem a restauração e bebidas e 5% à hotelaria”, revela ao Expresso. Maioritariamente motivada por queixas e denúncias, desde 2019 foram alvo de fiscalização 21.561 estabelecimentos de restauração e bebidas; até dia 3 de agosto tinham sido fiscalizados 3929. No que respeita aos alojamentos, desde 2019 foram fiscalizados 11.726 estabelecimentos. Este ano somam-se 2370.

De forma a assegurar a qualidade, a ASAE tem elaborado fichas técnicas de fiscalização com a AHRESP — Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal para o alojamento e estabelecimentos de restauração e bebidas. Para restaurantes ­criou, como projeto-piloto, o Selo ASAE, que assinala o cumprimento de todas as normas.

A 4ª edição do PNT — Prémio Nacional de Turismo atingiu o número recorde de 743 candidaturas. O prazo para as empresas e projetos se inscreverem terminou no passado dia 31 de maio. O PNT tem como grande objetivo premiar e dar visibilidade aos projetos com valor no sector do turismo em Portugal em cinco categorias: Turismo Autêntico, Turismo Gastronómico, Turismo Inclusivo, Turismo Inovador e Turismo Sustentável. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o alto patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal e o apoio técnico da Deloitte. Por nomeação, é também atribuído um prémio Carreira.

Entre as 743 candidaturas apresentadas à 4ª edição do PNT — em 2021 tinham sido 439 — destacam-se as categorias de Turismo Gastronómico (283) e Turismo Autêntico (216), que representam 67% do total. Seguiram-se o Turismo Inovador (13%), Turismo Sustentável (12%) e Turismo Inclusivo (8%). Geograficamente, as candidaturas revelam uma cobertura total do território nacional, com a região Norte a liderar, com 239 candidatos. Lisboa, com 145, e Centro, com 134, também se destacaram no total de projetos a avaliar, que é complementado por 63 candidaturas no Algarve, 60 na Região Autónoma da Madeira, 56 no Alentejo e 46 nos Açores. Foram também efetuadas 40 nomeações destinadas à categoria especial Carreira.

DATAS MAIS IMPORTANTES

Acompanhe tudo sobre a 4ª edição do PNT — Prémio Nacional de Turismo AQUI

PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO

O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, lançam pelo quarto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.

Textos originalmente publicados no Expresso de 12 de agosto de 2022