Sao Tome
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25/11/22 – 25/01/23 –

Dois longos e angustiantes meses após o trágico massacre

no Quartel Militar de STP

Povo de São Tomé e Príncipe;

Eis que após 60 dias do massacre do quartel, continuamos sem qualquer vislumbre da merecida justiça e punição dos infratores e sem que a verdade seja aflorada, como se diz no nosso crioulo “Vedé sem lumadu magi n’guê di flé só na sen fa”. Diz-se que a dor física ou psicológica, a lágrima de tristeza ou sofrimento, a morte, os anti-valores e males sociais tais como injustiça, traição, cobardia, a privação da liberdade, em suma, o cortejo de tragédia humana suscita sempre, de forma instintiva, uma reação sentimentalmente universal.

Efetivamente, diante de um acto bárbaro de massacre, crueldade ou de tortura, tal como aconteceu no fatídico dia 25 de novembro, de 2022, no Quartel General das FASTP, seja homem, mulher ou criança, de qualquer quadrante, espaço, tempo, classe social, raça, credo ou ideologia, ressente indignação, consternação, vergonha, revolta por tamanha desumanidade e banalização da vida.

Por conseguinte, essa misantrópica barbárie que vitimou quatro cidadãos são-tomenses indefesos, não deixou ninguém indiferente, muito menos impávido e sereno; pelo contrário, fomentou um coro de condenação generalizada, no País e na diáspora. Aliás, os próprios carrascos militares, inesperadamente traídos pelas imagens chocantes divulgadas através das redes sociais, carregam grilhões na consciência encharcada de sangue das vítimas e enfrentam diariamente o olhar acusatório da sociedade, em jeito de julgamento popular.

São 60 dias transcorridos, muito para uns e muito pouco tempo para outros, porém, uma eternidade, diante do silencio, da impunidade e da inércia das autoridades, enquanto se aguarda com máxima expectativa e ansiedade o resultado das investigações, o relatório das autópsias,  que se espera imparcial, credível e independente das autoridades judiciais, enfim, a Verdade verdadeira – Que a balança da justiça tarde mas não falhe e haja mão pesada para com os infratores e criminosos!

Importa realçar que quanto mais o tempo passa, arrastando consigo a dor, a desolação, desespero e a miséria das famílias, mais aumenta o descrédito da opinião pública sobre a Justiça sã-tomense e cria maior aversão sobre um governo desorientado que é incapaz de moralizar e despolitizar a administração pública e repor autoridade do Estado,  adotando medidas punitivas oportunas e preventivas em relação a demissão imediata das chefias militares implicadas diretamente nos actos de tortura fratricida.

 Enfim, muita promiscuidade, excessiva conivência entre o poder político e a hierarquia militar! – Sinais premonitórios preocupantes em democracia. 

Então, perguntamos: Para que serviu a nomeação do novo Brigadeiro das Forças Armadas, senão para lavar rapidamente a honra dos militares? Ou terá sido mais um tacho político-militar, para premiar serviço prestado?! Em todo esse processo trágico, a responsabilidade do chefe do governo é inegável; o mutismo do senhor Ministro da Defesa e Ordem Interna incomoda e questiona-se sobre o papel do Presidente da República, comandante supremo, figura de proa das FARSTP e Primeiro Magistrado da Nação?

Assim, para a História que retém singularidade dos factos, e por   obrigação de memória, não se deve esquecer da bravura, da digna atitude do Brigadeiro Olinto Paquete que pediu demissão ao se sentir traído e ultrajado. Um acto de elevação e coragem condizente com a postura formativa de um profissional oficial superior do Exército, perfil que contrasta com a estirpe do Vice-Chefe de Estado Maior das FARSTP ainda em funções, ou melhor, em insana coabitação imoral com o novo Chefe de Estado Maior.

 Outrossim, auguramos um desfecho o mais célere possível desse processo do Quartel que já fez correr muita tinta, muitas lágrimas e muito sangue, no sentido de se travar a tentação de, também, alguns pretenderem fazer justiça com as suas próprias mãos e para voltar a devolver ao País a paz, a serenidade, a credibilidade na autoridade das instituições do Estado de direito democrático, condição sine qua non para o alcance do  almejado desenvolvimento sustentado, em liberdade.

Por fim, todos nós, atores políticos, sociais, culturais, empresariais, ONG, continuamos sensibilizados, vigilantes e mobilizados na vanguarda da luta pela promoção do Estado de direito democrático e pela defesa dos direitos humanos fundamentais, pelo respeito da vida humana e dos princípios e valores humanistas, pelo reforço da coesão social e identidade nacional e pela busca incessante dos ideais de bem-estar e felicidade para o povo de São Tomé e Príncipe, dentro e fora do país, “punda non sebê cuma Toni Vinte fotxi, Alê ni nglanja di Sodôma, Xi ê molê ni fotxi a ka ntelé ni Kalabusu.”

São Tomé, 25 de janeiro de 2023.

Jorge Bom Jesus.