Pela primeira vez o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural de São Tomé e Príncipe decidiu proibir o abate de árvores no país.
Por ocasião da celebração no dia 21 de Março do dia internacional da Floresta, o governo através da direcção das florestas e biodiversidade, emitiu um despacho que proíbe o abate de árvores em todo o mês de Março.
O Ministério da agricultura e desenvolvimento rural tinha assim dado o primeiro passo no sentido de sensibilizar os madeireiros e despertar a consciência nacional para a problemática da protecção das florestas e da biodiversidade.
No entanto, os técnicos da direcção das florestas dizem que foram surpreendidos no último sábado, com uma denúncia da população de que na zona da roça Uba-Budo estava a ocorrer o abate de árvores. O som das motosserras tinha quebrado o silêncio imposto na floresta pelo despacho do governo.
«A equipa da direcção da floresta foi ao local para fazer a apreensão dos materiais e do equipamento de serragem. Constatou-se que o lote de terra onde ocorria o abate ilagel de árvores pertence ao senhor Jorge Amado que neste momento é ministro da defesa e ordem interna», relatou Meyer António, porta- voz dos técnicos da direcção da floresta.
Segundo o técnico da direcção da floresta a equipa de trabalho interpelou as pessoas que estavam a abater as árvores, que de repente receberam um telefonema.
«O senhor Jorge Amado deu ordens aos seus seguranças, para que não deixassem a equipa da direcção das florestas realizar o seu trabalho. E disse aos seus seguranças que continuassem, e que nos dissesse que foi ele quem mandou», prosseguiu Meyer António.
Há mais de 10 anos que militares e polícias garantem a segurança dos técnicos da floresta no processo de controlo e fiscalização do abate ilegal de árvores em todo o território nacional.
«Os técnicos foram ameaçados pelos seguranças do senhor Jorge Amado, e os militares e os polícias que acompanharam a equipa da floresta receberam ordens do seu superior para se retirarem do local», acrescentou.
O posicionamento do Ministro da Defesa e Administração Interna é considerado pelos técnicos da direcção da floresta como sendo «um abuso do poder…É desrespeitar o que foi estabelecido pelo ministério da Agricultura, estamos indignados. A equipa da direcção das florestas teve que se retirar», reclamou Meyer António.
Para os técnicos que protegem a floresta na ilha de São Tomé, o ministro da defesa e administração interna mostrou que está acima da lei. Mas, nós os técnicos da direcção das florestas, achamos que o senhor Jorge Amado, não está acima da lei», avisou.
Segundo Meyer António a Direcção das Florestas é a única entidade nacional que tem competências legais para autorizar o abate das árvores e a respectiva serragem.
«Mesmo o senhor Presidente da República já recorreu à direcção das florestas pedindo a autorização legal, para abater a árvore, e esperou pelo procedimento legal para o fazer. Se o Presidente da República, que é o mais alto magistrado da nação, segue as orientações da direcção das florestas, porquê que o senhor Jorge Amado não segue o mesmo procedimento ? E porquê que usa os seus seguranças para amedrontar os técnicos da floresta ?», interrogou.
Militares e Polícias obedecem o mando vertical. O Ministro da Defesa e Administração Interna, e os técnicos da direcção da floresta e biodiversidade, sentem-se desprotegidos e ameaçados.
«Esperamos do governo uma reacção perante o que aconteceu», concluiu Meyer António.
Abel Veiga